2024 será um ano de moderação na economia global
Entidades internacionais estimam retorno a tendência de crescimento e inflação convergindo para metas de bancos centrais até 2025, escreve Otaviano Canuto
Entidades internacionais estimam retorno a tendência de crescimento e inflação convergindo para metas de bancos centrais até 2025, escreve Otaviano Canuto
A oferta e os preços de energia são os principais canais de transmissão econômica global da guerra entre Israel e Hamas. Os efeitos do conflito nos mercados globais de matérias-primas têm sido limitados até agora. Esse quadro dará lugar a mudanças acentuadas caso o conflito se agrave e se alastre. Para além do efeito devastador sobre vidas trazido por uma extensão e agravamento da guerra, não é o caso de se menosprezar os efeitos sobre pobres e a segurança alimentar e energética no planeta.
Rendimento de títulos dos EUA de 10 anos saltou de 3,8% ao ano no final do segundo trimestre para acima de 4,7%. Que causas podem ser apontadas como explicação para elevações nas taxas de juros nos títulos de longa duração em relação às taxas nos mercados monetários, que refletem as taxas básicas implementadas por bancos centrais? Duas são possíveis.
Pares de países têm acordado liquidar transações comerciais e financeiras entre si em suas moedas locais, em geral mediante acordos bilaterais entre seus bancos centrais. A China tem sido capaz de usar sua moeda para liquidar metade de suas transações externas de comércio e investimento. O uso crescente de moedas locais em pagamentos externos será parte do que já chamamos aqui de “desdolarização devagar e limitada”. A “fragmentação” parcial do sistema global de pagamentos está em curso.
A frequência e a abrangência de medidas comerciais e políticas industriais discriminando agentes externos, particularmente nas economias avançadas, aumentaram no passado recente. Tem-se assistido a uma variedade de políticas públicas nessa direção, como a imposição de tarifas, o endurecimento de regras para investimentos estrangeiros e a renegociação de acordos comerciais para incluir termos mais restritivos. Uma fragmentação geoeconômica global traria danos particularmente para economias emergentes e em desenvolvimento
Dificultar a progressão da China na sofisticação da produção de semicondutores tornou-se peça central da política dos EUA
1. Quão durável será a mudança de regime macroeconômico nas economias mais ricas desde 2021? Passado o momento de aperto monetário e consequente estabilização inflacionária em patamares mais baixos, em dois anos ou mais voltarão as taxas de juros nas economias avançadas a níveis tão baixos quanto os das últimas décadas? Ou algo fundamental mudou, aumentando a frequência de choques de preços e a necessidade de juros mais altos? Para os economistas, essa pergunta equivale a: “para onde vão as taxas ‘naturais’ de juros?” 2. Caso se mantenham estáveis os parâmetros estruturais de demanda e oferta da economia brasileira, a Selic nominal deverá estar algo em torno de 7,5% ao ano em fins de 2025, ou seja, a soma da taxa real neutra de 4,5% e da meta de 3% de inflação.
Tem havido uma redução no grau de "dominância" do dólar, com uma queda se sua parcela nas reservas dos bancos centrais desde a virada do século, de 71% em 1999 para 58,4% ao final de 2022. Contudo, fatores gravitacionais favorecem a continuidade da posição central do dólar em mercados financeiros internacionais, nas faturas e pagamentos comerciais, assim como em reservas cambiais públicas e privadas
Esta semana o Banco Mundial divulgou um relatório projetando uma redução no limite de velocidade com que a economia global poderá crescer no restante dessa década. As alavancas econômicas que impulsionaram a prosperidade nas últimas três décadas estariam perdendo força.
Está o sistema bancário dos Estados Unidos à beira de um precipício como o de 2008? Seriam as últimas semanas o prenúncio de uma nova crise sistêmica? O dilema do Fed entre combater inflação e assegurar estabilidade financeira ficou mais apertado, com “dominância financeira” caso os juros sejam mantidos abaixo do que a política contra a inflação recomendaria. Apesar do otimismo de que o estresse no sistema financeiro será contido, um endurecimento de condições financeiras – em ações e crédito - já está ocorrendo.
O dólar norte-americano subiu dramaticamente no passado recente. Um fator maior subjacente à valorização do dólar está no maior rendimento em termos reais dos ativos norte-americanos em relação a outros. A forte valorização do dólar americano em relação às demais moedas, no passado recente, reforçou pressões contracionistas presentes na economia global. A valorização do dólar também traz um efeito compressivo sobre economias que tenham exposição elevada a passivos denominados naquela moeda. Portanto, o "giro" ou "pivô" do dólar só ocorrerá quando ocorrer um "giro" ou "pivô" na política monetária dos EUA.
A curva de Phillips se mexeu. Pode-se imaginar o retorno da relação a como era antes da pandemia? Voltarão os juros baixos de longo prazo que prevaleceram no passado recente ou a “tempestade perfeita” trouxe mudanças estruturais?
Há uma sincronia internacional no aperto de políticas monetária e fiscal. A probabilidade de retroalimentação de políticas monetárias restritivas é maior quando todas estão respondendo a um problema inflacionário que lhes é comum. A revisão para baixo nas projeções de crescimento global em 2022 e 2023 já tem sido notável.
Percepção de riscos de recessão nos EUA e na Europa tem sido um fator de peso na evasão de investidores, escreve Otaviano Canuto. Mesmo se sabendo que há uma defasagem temporal entre decisões de juros e seus efeitos, o Fed não poderá ignorar o que for ocorrendo com índices inflacionários mensais durante a travessia até o próximo ano, diz o articulista.
Além de elevações recentes e futuras nas taxas básicas de juros, as condições de liquidez na economia dos Estados Unidos serão também afetadas pelo encolhimento do balanço do Federal Reserve (Fed) iniciado esse mês. O “afrouxamento quantitativo” (“QE” em inglês) retomado com força em março de 2020, como resposta ao choque financeiro no início da pandemia, dará lugar agora a um “aperto quantitativo” (“QT” em inglês). Ascensão de juros, QT e quedas nas bolsas estão apontando consistentemente numa direção de desaquecimento econômico e, tentativamente, declínio na inflação. E o fim está ainda longe.