Impactos negativos da guerra comercial entre China e os EUA geram pressão por diálogo

O GLOBO

Impactos negativos da guerra comercial entre China e os EUA geram pressão por diálogo

Reação chinesa e turbulência nos mercados podem provocar a negociação entre dois países.
WASHINGTON – Após a piora na retórica comercial dos Estados Unidos e da China, aumenta a pressão para que a guerra comercial entre as duas nações fique apenas nas palavras. Além da turbulência no mercado financeiro – com forte valorização do dólar -, pesam a favor da negociação a pressão de importante parte do eleitorado de Donald Trump, principalmente em estados rurais. Embora já afete os mercados, a guerra comercial dos dois países é apenas verbal. Nenhuma tarifa foi efetivamente majorada, apenas foi divulgada a lista de produtos, de ambos os lados, que podem ser alvo de sanção. E a resposta chinesa afetou os eleitores de Trump.
– Trump passou meses ameaçando retaliar a China, que permaneceu em silêncio. O país só se pronunciou quando foi apresentada a lista de produtos que poderiam ter sobretaxa, e então os chineses apresentaram sua resposta estratégica – afirmou André Soares, pesquisador associado do Centro Adrienne Arsht de America Latina do Atlantic Council. – Agora os EUA tem alguém com quem duelar.
Otaviano Canuto, diretor executivo do Banco Mundial para o Brasil e outros oito países, acredita que o sistema de pesos e contrapesos do governo americano tende a diminuir a pretensão de Trump de punir as exportações chinesas, apesar de lembrar que, em matéria comercial, o presidente americano tem muito poder de criar barreiras com o argumento de defesa nacional.

Questionado se Trump pode estar repetindo com a China sua estratégia mais comum de negociação – ameaçar fortemente, para depois negociar com uma contraparte fragilizada -, Canuto afirma que isso pode não estar gerando os resultados esperados:

– A questão é que temos que esperar o bom-senso. É preciso ver que a estratégia de Trump falar grosso com outros países, como na questão do Nafta (Acordo de Livre Comércio da América do Norte, com Canadá, EUA e México), não deu resultado até o momento – disse.

Trump reconheceu esse provável impacto, mas tentou acenar para parte relevante de sua base:

– Os fazendeiros são grandes patriotas – disse Trump na Casa Branca. – Eles entendem que estão fazendo isso pelo país. E nós vamos compensar isso. E, no final, eles serão muito mais fortes do que são agora.

Além do setor rural, a indústria e outros setores, em geral, aumentam a pressão na Casa Branca para iniciar uma negociação com a China, em vez de recrudescimento da luta comercial. Mas especialistas afirmam que há dificuldades para isso:

– A pressão por parte do setor empresarial americano está aumentando, e era meio inevitável que isso ocorresse. O grau de interconectividade da economia americana com a chinesa é enorme – afirmou Monica de Bolle, professora da Escola de Estudos Avançados da Universidade John Hopkins e pesquisadora sênior do Peterson Institute for International Economics. – O problema é que desde a saída de Gary Cohn (do posto de assessor econômico de Trump) da Casa Branca, não há muita interlocução com o setor empresarial.

Ela afirma, assim, que parte dos empresários tende a pressionar os congressistas, mas tampouco pode haver grande resultados:

– Muitos congressistas já estão preocupados com as eleições de novembro. E a China se tornou um grande bode expiatório, muitos republicanos culpam a China pelos sub-empregos que têm – afirmou a economista.